Movimentos populares e organizações sindicais de mais de 20 países divulgam carta após encontro em Foz do Iguaçu: "estamos passando por uma crise estrutural global do sistema capitalista, cujos resultados são imprevisíveis"
Terminou, na última sexta-feira (23), a Jornada Latino-Americana e Caribenha de Integração dos Povos que, neste ano, foi realizada em Foz do Iguaçu (PR) e contou com a participação de mais de 1.500 representantes de movimentos populares e organizações sindicais de mais de 20 países.
O encontro foi concluído com a divulgação da “Carta aos povos pela integração da América Latina e do Caribe”, com diagnósticos dos desafios para a superação de problemas geopolíticos, ambientais e para a efetiva integração das nações regionais, respeitando a soberania nacionais e populares de cada país.
“Foi um encontro muito rico e necessário, num momento em que, por um lado, os movimentos populares estão se fortalecendo, graças à ascensão de políticos progressistas ao poder, como aqui no Brasil, com o terceiro mandato de Lula, e, por outro lado, com a reorganização dos grupos de extrema direita, apoiados pelo capitalismo financeiro internacional”, explicou a secretária de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Rita Berlofa, que participou da jornada ao lado de outros dirigentes do movimento sindical do ramo financeiro.
“Um momento com tantas crises que a nossa geração está vivenciando – alimentar, climática e de crescente disputas bélicas, crises somadas ao aumento da precariedade do emprego – é também um momento para encontrar saídas para a transformação que defendemos”, destacou a secretária de Políticas Sociais da Contraf-CUT, Eliane Cutis. “Por isso que viemos em peso neste encontro, por entender a importância deste momento, tanto para a categoria dos trabalhadores do ramo financeiro, quanto para todas as demais categorias”, completou.
Crise sistêmica
Na carta há o reconhecimento de um período sem precedente na história, devido à crise estrutural global do sistema capitalista, que se desdobra nas crises alimentar, ambiental, social e econômica. “Esse [cenário] é um produto do próprio desdobramento do capitalismo em sua fase neoliberal, que ameaça os diferentes aspectos da sustentabilidade da vida”, destacam os movimentos populares no material.
Também foi observado que essa desestruturação tem levado à precariedade dos empregos e à “falta de acesso aos direitos básicos para uma vida digna” a centenas de milhões de pessoas, que são obrigadas a migrarem de suas regiões de origem.
Solidariedade aos palestinos
A Jornada Latino-americana e Caribenha pela Integração dos Povos também reafirmou a solidariedade em defesa da causa palestina. “A comunidade internacional deve atender ao apelo dos povos por um cessar-fogo imediato e pela criação de um Estado palestino soberano e livre (…) Se o Lula é persona non grata, o povo latino-americano é persona non grata para Israel”.
Integração com respeito às diferenças
Por fim, a carta reforçou a principal motivação do encontro periódico: a luta pela integração dos povos, num movimento contrário a lógica que o capital financeiro internacional impõe: exploradora, aprofundadora das desigualdades sociais e devastadoras do meio ambiente e recursos naturais.
“Nossa integração regional deve assumir o direito dos povos de definir suas próprias estratégias políticas e sistemas agroecológicos e justos de produção, distribuição e consumo de alimentos, com base na produção camponesa e em pequena escala, reconhecendo o papel central das mulheres. Esse é um pilar fundamental na luta contra as crises climática, de biodiversidade, hídrica e alimentar”, concluem.
Agenda
A carta traz a definição do calendário de mobilização ao longo de 2024:
2 e 8 de março;
17 de abril;
1º de maio;
5 de junho; e
16 de outubro.
Os movimentos sociais também foram convocados a marcar presença na Cúpula dos Povos, que ocorrerá durante a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), a ser realizada em Belém (PA), em novembro de 2025.
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