Uma assembleia lotada e indignada mostrou que uma boa luta está começando no BRDE. A diretoria do BRDE inaugurou este ano um jeito atravessado e antissindical de faltar com a palavra. Negociou exaustivamente por meses, fechou um Acordo Coletivo Específico de Trabalho, esperou os(as) bancários(as) aprovarem em assembleia e o que fez? Decide recusar uma cláusula e faltar com o respeito com uma tradição de negociação.
Pois na assembleia virtual da noite da terça-feira, 4/5, os colegas do BRDE dos três estados da Região Sul decidiram rejeitar a proposta de paralisação de 24 horas na próxima quinta-feira, 6/5. A assembleia contou com a participação de cerca de 80 bancários(as).
Também decidiram aceitar a proposta do banco e assinar o acordo coletivo de trabalho sem a cláusula 19. Mas foram assertivos. Vão entregar uma carta à diretoria com assinatura dos(as) bancários(as), pontuando reivindicações históricas, como o respeito às promoções.
A cláusula que o banco vetou não tem implicação financeira, ela trata da criação de um Grupo de Trabalho Paritário para estudar e construir a extensão do plano de saúde para colegas do RPII que se aposentarem.
Um dos fatores que pesou na decisão foi a pressão da Reforma Trabalhista de 2017. Como não há mais ultratividade – o atual acordo está vencido e pode não haver renovação das conquistas – um novo acordo assinado permite incluir benefícios conquistados na Campanha salarial do ano passado
Tudo é grave e absurdo nesse recuo sem precedentes na história das negociações entre bancários e seus empregadores. Talvez, a orientação política e ideológica dos três governadores dos Estados do Sul explique parte da recusa. O BRDE roeu a corda depois de ajudar a montar um acordo coletivo aprovado em assembleia no dia 18 de março.
“Não negociamos certezas naquela cláusula. Negociamos um processo. Negociamos um estudo. Negociamos um começo para resolver problemas, ajudando o banco a encontrar as soluções para um problema que não deixa de existir porque o banco não quer assinar no acordo”, avaliou o presidente do SindBancários, Luciano Fetzner
Luciano enxerga essa atitude da diretoria do BRDE como imbricada no projeto de estado de Eduardo Leite, que tramita como PEC 280/2009 na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, para retirar o plebiscito da Constituição Estadual e facilitar a venda de empresas públicas.
“O processo de privatização do Banrisul está imbricado, porque sabemos que, ao fim e ao cabo, o projeto ultraliberal de estado mínimo deixa a perigo todos os bancos públicos, assim como a companhia de água, o que é um absurdo, e os dados sensíveis de todos os gaúchos. Querem colocar tudo nas mãos da iniciativa privada”, acrescentou Luciano, mencionando o Banrisul, a Corsan e a Procergs, empresas alvo da privatização na PEC 280/2019.
“A decisão dos funcionários é pragmática em razão da atual conjuntura política e das limitações que a atual legislação nos impõe a parti do desmonte da CLT”
A diretora do SindBancários, Caroline Heidner, conduziu a assembleia. Fez a leitura do edital de convocação da assembleia, publicado em 26 de abril, e esclareceu os motivos do chamado do Sindicatos para a paralisação. Foram mais de dois meses de negociações em mesas específicas virtuais com representantes da diretoria do BRDE.
Nesse processo, o BRDE sabia o tempo todo dos termos postos para a construção do acordo coletivo e autorizou seus negociadores a seguir em frente.
“Para nossa surpresa, na reunião da diretoria ocorrida em 24 de março, onde os negociadores do banco formalizaram a aprovação da ACT da assembleia do dia 18, a diretoria vetou a cláusula 19, como se fosse possível escolher apenas uma parte do acordo já negociado. O Sindicato foi informado no dia seguinte, 25 de março”, contou Caroline.
Desde o dia 25/3, o Sindicato se reuniu diversas vezes com o RH do banco. E, no meio desse processo de buscar a conversa, segundo a diretora Caroline Heidner, o banco propôs substituir o GT paritário pela contratação de uma empresa de consultoria.
“A decisão dos funcionários é pragmática em razão da atual conjuntura política e das limitações que a atual legislação nos impõe a parti do desmonte da CLT. No entanto, os funcionários do BRDE estão conscientes de que este ato da direção do banco constituiu profundo desprezo à organização sindical dos trabalhadores e não irão admitir que essa direção transforme o rompimento dos acordos numa prática de destruição dos direitos dos trabalhadores e desmonte das empresas públicas. Sabemos que hoje passou um boi, mas não vamos deixar passar a boiada”, finalizou Caroline.
Fonte: Imprensa SindBancários
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